quarta-feira, 13 de outubro de 2004

Carta sem bússola

E eu que a ti cheguei sem ter de mim partido, me pergunto agora, o que é pior, de quem roubei o verso pretendido?
E eu que a ti cheguei sem ter de mim partido, repito a frase remota, remonto o moto contínuo.
E eu que a ti cheguei sem ter de mim partido, escuto de longe o canto do pássaro vizinho, longe vou eu, sem lastro, com o pensamento perdido.
E eu que a ti cheguei sem ter de mim partido, parei pra ver no cinema a vida passando em luz, enquanto da platéia se amorfam sentimentos desmedidos.
E eu que nem a ti cheguei depois de já ter há muito de mim partido, sonho o sonho sereno do contemplativo e plácido luto construído.
E eu que de mim parti sem ter idéia do alvo a ser alcançado, faço o caminho de volta arrastando o coração destruído, a alma remendada e o amor perdido.
E eu que de mim parti sem ter a lugar nenhum chegado, olho com o vazio do olho o ermo de dentro e penso: pra onde foi o ser amado?

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