sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Té logo, Roberto...

Eu não agüento mais. Esse ano precisa acabar. É o quarto amigo que se despede em menos de seis meses. Chega...


http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=1222


O adeus a Roberto Moura

José Reinaldo Marques
27/10/2005



A mensagem de Tereza Cristina comunicando — “com uma dor profunda no coração e na alma” — o falecimento do marido, Roberto M. Moura, e convidando para o velório no Memorial do Carmo pegou de surpresa os amigos do jornalista, que, aos 58 anos, morreu ontem no Rio, vítima de dengue hemorrágica.

Sócio número 1.672 da ABI, onde ingressou em 1977 e também era membro efetivo do Conselho Deliberativo, Roberto Moura faleceu às 20h no Hospital São Lucas, em Copacabana, onde havia sido internado.

Além de sua mulher, do casal de filhos e outros parentes, compareceram ao funeral de Roberto, no Cemitério do Caju, dezenas de amigos, alunos e ex-alunos das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), jornalistas e representantes da ABI, como o Presidente da entidade, Maurício Azêdo; a Diretora de Jornalismo, Joseti Marques; e os Conselheiros Sérgio Cabral, Amicucci Gallo, Domingos Xisto e Chico Paula Freitas. Joseti Marques lamentou a perda do amigo e lembrou que o diagnóstico de dengue hemorrágica deve levar os jornalistas a se empenhar em uma pauta investigativa para saber como foram empregadas pelo Estado e o Município as verbas do SUS destinadas à prevenção de epidemias da doença, que geralmente ocorrem no verão:
— Perdemos o Roberto, que era nosso amigo querido, mas temos que continuar nos preocupando com aqueles que não conhecemos e dos quais o jornalismo se ocupa.

Também estiveram presentes músicos, produtores culturais, pesquisadores e professores — entre eles a museóloga Lygia Santos, filha de Donga, e o jornalista José Carlos Rego, ambos membros do júri do Estandarte de Ouro do Globo, que Roberto integrou por 28 anos; o compositor Sílvio da Silva Júnior; o violonista Cláudio Jorge; e Moacyr Luz, que comentou:
— Eu teria muitas coisas para falar do Roberto, inclusive menciono no meu livro (“Nos butiquins mais vagabundos”) que ele foi o primeiro jornalista a citar meu trabalho como compositor. Era um grande amigo de bar, de samba e de projetos. Fizemos vários trabalhos juntos, como “O samba falado”, e atualmente ele estava cuidando do roteiro do show de lançamento do meu CD “Voz e violão” e do projeto “Sedução e voz”. Acima de tudo, Roberto era meu companheiro de toda hora, vou sentir muita falta desse parceiro que era a cara da cultura do Rio.



Muito emocionado, Sérgio Cabral exaltou o trabalho de Roberto Moura como pesquisador da MPB:
— Era um brilhante analista da nossa música e da cultura popular de maneira geral. Roberto conhecia o tema e escrevia sobre ele com absoluta profundidade.

Roberto M. Moura foi diretor de espetáculos, produtor e crítico musical. Atualmente, além de dar aulas nas Facha, era comentarista de programas da TV Educativa e colunista do ABI Online e da Tribuna da Imprensa. Mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Doutor em Música pela UniRio, escreveu os livros “Carnaval — da Redentora à Praça do Apocalipse” (Jorge Zahar, 1986); “MPB — Caminhos da arte brasileira mais reconhecida no mundo” (Vitale, 1998); “Praça Onze — no meio do caminho tinha as meninas do Mangue” (Prefeitura do Rio/Relume Dumará, 1999); “Sobre cultura e mídia” (Vitale, 2003); e “No princípio, era a roda” (Rocco, 2004).

Para Iris Agatha, que foi sua “foca” no Diário de Notícias e colega no jornal Última Hora e na Rádio MEC, Roberto Moura foi “um grande mestre de brasilidade”. Para a também jornalista Zilmar Basílio, que foi aluna de Roberto na Facha, “esse carioca da Praça Onze fez da sua vida uma grande contribuição para a cultura da cidade do Rio de Janeiro e deixou marcas importantes dessa mesma cultura para o nosso País”.

domingo, 23 de outubro de 2005

SIM OU NÃO SEM TALVEZ

E que ninguém se engane: quem venceu não foi uma frente parlamentar, um publicitário competente, uma campanha agressiva, o conservadorismo, a direita, nem foi a esquerda que perdeu, nem uma campanha arrogante que jogou tudo por água abaixo, não foi a derrota da paz.
Esse referendo marcou a vitória do ruído.

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

**suspiro**

Luís, o Filipe, mandou do Luís, de Camões e, pra variar, mesmo no escuro acertou em cheio.

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

sábado, 8 de outubro de 2005

Puxadinho

O Cartas ganhou um puxadinho em http://branca.multiply.com
Lá tem álbum de fotografias, faixas dos textos com trilha sonora e outras coisitas más.
Divirtam-se.

terça-feira, 4 de outubro de 2005

What kind of kiss are you?

entrancing
You have an entrancing kiss~ the kind that leaves
your partner bedazzled and maybe even feeling
he/she is dreaming. Quite effective; the kiss
that never lessens and always blows your
partner away like the first time.

What kind of kiss are you?

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

À VIDA NOTURNA

Hugo Sukman
02/10/2005


Aldir Blanc grava disco e retoma histórica parceria com João Bosco

Quando João Bosco chegou ao estúdio o Aldir já estava lá. E também o Helinho com seu violão, o Cristóvão ao piano e o Mello, lápis, papel e prancheta em punho, desenhando tudo para uma futura capa.

Lá pelas tantas, depois de uns uísques já tinha até nego vendo a Elis lá, ouvindo tudo num canto, ou o falecido poeta Paulo Emílio chorando em outro, enquanto João e Aldir mandavam o samba em sua homenagem: “Eu gosto quando alvorece/Porque parece que está anoitecendo/E gosto quando anoitece que só vendo/Porque penso que alvorece/E então parece que eu pude/Mais uma vez outra noite, reviver a juventude/Todo boêmio é feliz/Porque quanto mais triste/Mais se ilude...”.

Não, isso não aconteceu em 1977 quando, no auge de sua parceria com Aldir Blanc, João Bosco gravou esse samba, “Me dá a penúltima”, no disco “Tiro de misericórdia”, com Hélio Delmiro na guitarra, Cristóvão Bastos ao piano e capa do artista plástico Mello Meneses (Elis Regina, principal intérprete da dupla, provavelmente passou no estúdio para visitar; Paulo Emílio, parceiro de João e Aldir, estava sempre por lá...).

Aconteceu, tudo inacreditavelmente como antes, ao anoitecer da última quinta-feira, num estúdio em Copacabana. Aldir Blanc gravava seu primeiro disco solo como cantor e seu parceiro João Bosco chegou para fazer uma participação. Ia cantar com Aldir e tocar, como fez, o samba- canção que dá título e conceitua o disco, “Vida noturna” (do LP “Galos de briga”, 1976). Mas veio de casa com essa surpresa, um arranjo novo de “Me dá a penúltima”, que acabou entrando no disco e fazendo todo mundo chorar ao fim da gravação rápida, impecável, de primeira.

— Depois dessa estou no limite emocional — confessou Aldir, do cubículo oculto no estúdio onde ficava seu microfone, ecoando o sentimento geral.

CD privilegia o cantor Aldir

Limite emocional viu-se a partir dali. Finda a gravação, João informalmente pegou o violão e surpreendeu a todos cantando a primeira música que ele e Aldir fizeram juntos após 20 anos da interrupção de parceria e amizade mais lamentada da história da MPB e que agora reencontrou de vez o prumo.

Trata-se do magnífico samba-canção “Mentiras de verdade” (letra ao lado), sobre a parceria dos dois, a briga e finalmente o reencontro. É primeira música que os dois fazem juntos desde a épica “As minas do mar”, de 1983 e lançada só em 87. “Quero esquecer de mim, ser mais você, menos do que eu...”, confessa Aldir, numa homenagem a essa forma de amor fraternal chamada parceria.

— As nossas parcerias transcendem o negócio da música — dizia Aldir, na conversa solta entre ele, João e seu mais constante parceiro atual, Moacyr Luz, aliás produtor e idealizador do seu disco solo. — Eu sou profundamente ligado aos meus parceiros. Se eu pudesse resolver a dor nas costas do João ou a dor na barriga do Moacyr, renunciando para isso a tudo que nós fizemos em música, eu não vacilaria um minuto.

“Mentiras de verdade”, que tem direito até a elegante citação a Tito Madi (“Mentira, foi tudo mentira...” ) não está no disco que Aldir acabou de gravar ontem. Estará junto com outras parcerias novíssimas da dupla, no CD de inéditas que João grava em fevereiro para o selo independente MP,B.

“Vida noturna”, o disco de Aldir, sairá ainda este ano pela Lua Discos, gravadora paulista que lança os discos de seu parceiro Moacyr Luz. A idéia de Moacyr, como o samba-canção-título indica, nasceu do convívio boêmio com Aldir.

— A gente tem a idéia desse disco há muito tempo — explica Moacyr ainda com a voz embargada pela experiência da gravação. — Quando todo mundo vai embora no fim da noite, vem o Aldir e pega o violão. E caramba, meu Deus, que histórias que ele canta. Histórias de noite, de chão. Aquele troço inusitado e espontâneo que há aí tinha que ser registrado.Além de “Vida noturna”, “Me dá a penúltima”, “Cordas” (com Guinga, já gravada por Leila Pinheiro), o bolero “Causa perdida” (com Rosa Passos, regravada por Alcione) e o clássico “Resposta ao tempo” (com Cristóvão Bastos, sucesso de Nana Caymmi), todas as outras músicas são inéditas. E inéditas de Aldir e parceiros muito em forma, o que fez João Bosco, depois de ouvir as novas músicas de Aldir, arriscar uma análise da obra do parceiro.

— O Aldir canta as histórias que ele inventa como ninguém — dizia João. — Ele observa o mundo que está em volta dele, a vida que está acontecendo e nada escapa ao Aldir. Ele faz isso com um brilhantismo de quem não teme a morte. Ele canta a vida o tempo todo e só utiliza a morte quando precisa dela para fazer um verso. A morte para ele é o trecho de uma calçada onde ele cai. A morte coincide com o paralelepípedo e é apenas um detalhe do cenário. Ninguém mais consegue escrever com essa total liberdade de alguém que não teme nada.

João se refere a coisas como o desmedido amor contido em “Dois bombons e uma rosa”, letra e rara música de Aldir, que diz: “Não há xampu, não há creme/Que apague ou que desmarque/Da tua pelo o meu beijo/Fedendo a conhaque”. Ou do soco-no-estômago “Lupicínica” (parceria com Jayme Vignolli) e seu cheiro de morte ao relembrar um amor por uma enfermeira do Salgado Filho “com a chama vital de Ana Karenina”: “Aquela mulher que dosava o soro nas veias dos agonizantes/Não teve sequer um calmante pra dor sem remédio/Que aflige os amantes”.

— Essas coisas acontecem num mundo blanquiano, único — diz João. — Essa poesia, essa generosidade, essa visão de mundo, essa loucura que mistura Tolstoi com esparadrapo, tudo isso é ele. E quando ele canta, canta assim.

Os parceiros, mesmo desfrutando da intimidade de ouvir Aldir cantar nas rodas boêmias, surpreendem-se de como ele está cantando bem.

— O Aldir nem precisava cantar como um cantor, ele é um criador e tudo se resolve a partir daí. Mas ele cantou como nunca vi em todos esses anos de convívio — testemunha Moacyr, emocionado com o fato de estar dando esse presente ao parceiro.

Mocyr concebeu um disco só de piano (sempre Cristóvão Bastos) e violão (normalmente João Lyra, mas com participações de Hélio Delmiro, Guinga e João Bosco nas suas composições), valorizando as músicas e o universo blanquiano. Como a primeira e histórica parceria de Aldir e Hélio Delmiro, “Constelação maior” (letra ao lado), uma lírica ode amorosa ao seu cachorro.

Aldir só gravara outros dois discos na vida, o histórico álbum duplo em parceria com Maurício Tapajós em 1985 e o CD comemorativo aos seus 50 anos em 1996. Emocionado depois de quase enfartar ouvindo o solo de Hélio Delmiro, Aldir tenta explicar por que resolveu sair da toca.

— Eu fiz 59 anos e tenho alguns problemas de saúde. Ao mesmo tempo minha vida nunca teve tanta beleza. Eu nunca gostei tanto de uma mulher como eu gosto da Mary (Sá-Freire, sua mulher há 20 anos, que chorava ao lado enquanto Aldir dizia isso). Eu gosto muito mais das minhas filhas, eu vejo também as duas que morreram em volta de mim. Eu tenho quatro netos que me suavizaram em relação a coisas que principalmente o João conhece bem, que é uma agressividade terrível. Eu fiz questão de vir aqui gravar o disco para que tudo isso não se perca.

Aos 59 anos, Aldir começa uma nova vida no auge da sua poesia e de sua voz, cercado pelos parceiros, até mesmo o que era impensável há tempos atrás, João Bosco. Os dois são prova de que sempre se pode começar vida nova.

Jornal: O GLOBO
Editoria: Segundo Caderno
Página: 1
© 2001 Todos os direitos reservados à Agência O Globo

Do disco novo do Aldir

Amei
uma enfermeira do Salgado Filho,
paixão passageira, sem charme nem brilho,
roteiro batido, romance na tarde.

E aí, numa seresta na Dois de Dezembro,
me perguntaram por ela: “- Nem lembro...”,
eu respondi com um sorriso covarde.

Ouvi - que bofetada! - “Morreu duas vezes.
Uma aqui e agora, a outra há seis meses”.
Balbuciei: “- Morrida ou matada?”

“- Depende do seu conceito de assassinato.
Um pobre amor não é amor barato.
Quem fala de tudo não sabe de nada.”

II
Na rua do Tijolo, bloco 5, aquele de esquina,
morou uma enfermeira com a chama vital de Ana Karenina.

Dirá um dodói que Tosltói era chuva demais pra tão pouca planta.
Ô trouxa, heroínas sem par podem brotar na Rússia ou lá em Água Santa...

Aquela mulher que dosava o soro nas veias dos agonizantes
não teve sequer um calmante pra dor sem remédio que aflige os amantes.

Por mais que a literatura celebre figuras em vã fantasia
ninguém foi mais nobre que a Pobre da Enfermaria.

LUPISCÍNICA (Dedicada a Valmir Gato Manso) Jayme Vignoli / Aldir Blanc




Tenho um fiel companheiro
que vigia meu lar.
Tantos me dirão: quem é?
Mas não vou nomear.
Ele é bonito
e a minha garota
o recebe em seu leito
Eu mesmo às vezes
abro mão do orgulho
e com ele me deito.
Assim é o amor que ignora
simplórias fronteiras.
O bom-bocado conhece a medida do fel.
Ciúmes tenho mas eu renuncio.
Coisas maiores existem entre os três:
sabor antigo pela primeira vez...

CONSTELAÇÃO MAIOR, de Hélio Delmiro e Aldir Blanc



Assoviei, fingi à beça,
fiz promessa e o amor não some
Criei um muro e a mesma fome
morde os braços do adeus.
Com a boca eu me despedi,
minhas mãos desdisseram: não, não...
“Mentira, foi tudo mentira,"
você me enganou
Verdade, foi tudo verdade,
eu hoje admito:
somos um mito, sim,
maldade e carinho
ternura sem fim,
num laço,
coleira de cetim...
Quero esquecer de mim,
ser mais você, menos do que eu.
Verdade e mentira que o amor entre nós reviveu
— E um breque é coisa nossa num samba-canção porque...


MENTIRAS DE VERDADE, João Bosco e Aldir Blanc