terça-feira, 19 de julho de 2005

Se acontecer



(Djavan)

As estrelas brilham sem saber
Mas cada vez melhor
Pois foi só você aparecer
Todas desceram pra ver você brilhar de cor

O que mais chamou minha atenção
Sua expressão sutil
Isso eu já não posso esquecer
Porque não foi só visão, o coração sentiu

A tenda da noite
Enche de sombra um sonhar vazio
Percorri tantas fontes
Até ver você
Sair do nada pros meus horizontes
Que a manhã, pura e sã, com as mãos de jasmim
Vá roçar seu rosto
Pro amor ardente despertar por mim
Deus é pai, vai saber
Se acontecer
Serei seu até o fim

Em tempo de chuva
Que chova
Eu não largo da sua mão
Nem que caia um raio
Eu saio
Sem você da imaginação

Memórias, gatilhos e pistolas

Trecho da coluna de Aldir no JB de hoje:
"(...)
Uma olhadinha no passado recente faz bem em hora de crise. É no mínimo curioso nosso complexo de hienas nômades. Ao contrário das co-irmãs africanas, gostamos de carcaças frescas. Depois, enfastiados, nos desinteressamos e vamos procurar fedentina em outro pedaço. Vejam só: Mamaluf meteu a mão grande em grana do povo, cobrindo o amplo espectro que vai de galinhas da merenda escolar ao superfaturamento de obras faraônicas, butim comprovadamente percorrendo uma trilha imunda que vai da Suíça, Luxemburgo, Vanderlei e outros paraísos fiscais, até a adega e a pinacoteca desse inimigo de Ali-Babá. Em que cadeia está, cercado de pedras preciosas, Ibrahim Abin, o Ácaro Ackel? Cadê o xilindró de Ângelo Cayman de Sá? O banqueiro Sacacciola continua de férias no exterior? E os 12 mil corruptores de PC Farias? Pinicolalau, amigo de torturadores, permanece de licença-prêmio no reduto do lar? E os 20 mil envolvidos no escândalo do Banestado? Os operadores - sim, operadores - que sucatearam e venderam nosso patrimônio em processos de privatização cheios de mutretas e irregularidades durante o império de FHC I e II? Tem alguém preso? Quais são os detentos saídos da quadrilha apelidada de Propinoduto, amigos do Garotinho? Coroa-Brastel? Capemi? Maisonave (é isso?)?
Minha memória não güenta.
"

leia o texto completo no JB Online

segunda-feira, 11 de julho de 2005

What Movie Is Your Love Life Like?

Your Love Life Is Most Like When Harry Met Sally

Your newest love is someone you least expectOpen your eyes - and heart - a little to find him.

What Movie Is Your Love Life Like? Take This Quiz :-)



Whatever... =)

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Rua dos Artistas: O efeito Leleco

Aldir Blanc

(publicada em 06/07/2005 no fabuloso novo CadernoB do Jornal do Brasil -


Um amigo foi internado em situação difícil num setor de Oncologia. No quarto para dois pacientes, a privacidade é precariamente garantida por um cortinado entre os leitos. Vozes sussurram com discrição no exíguo espaço destinado a meu amigo. Do ladelá da cortina, uma saborosa família suburbana, cheia de Iracemas, Janaínas, Aymorezinhos e Valdineys, comporta-se como se estivesse num piquenique em Paquetá. Discutem política e futebol, nessa ordem (isso, não se pode negar, o PT conseguiu); armam quizumbas homéricas com a enfermagem; incentivam o doente zonzo:

- Que cara é essa? O quê? Fala mais alto, pomba! Não vai tomar a sopa de entulho que a tia Candoca mandou na garrafa térmica novinha?!? Na-nã-ni-nã-não! Só uma colherada pra provar. Sabe quem vem amanhã? O Ednevaldo com as filhas, Vanessa Michelle e Gisleynalva Wanderléia. A Gis tá com uma barriga enorme, grávida. Dizem que foi um jogador do Vasco, tadinha...

De repente, silêncio. E aí:

- Tá chorando?

A voz quase inaudível do paciente:

- Eu queria ver o Leleco antes de...

- Antes de quê? Pensa positivo! O astral é tudo!

Choro ainda mais alto.

- Tô sentindo muita falta do Leleco.

Uma voz de mulher, resoluta:

- Olha, pai, vou te prometer uma coisa: amanhã eu trago o Leleco aqui ou não me chamo Edmilce Azuréia!

Meu amigo acompanha o drama. Quem será o Leleco? O filho pródigo? A ovelha negra? Traficante procurado? Parlamentar da base de sustentação?

Um homem troveja:

- Pai, o Leleco só faz ême, pô! Ta lá na dele, pouco se lixando pro teu estado. O vagabundo só pensa em si. A gente rala pra te visitar e você tá com saudade daquele pilantra, cacete! Vou tirar o time que eu não güento esse tipo de babaquice! Tu gosta mais do Leleco do que dos próprios filhos! Sempre foi assim. Um dia, eu perco a cabeça e dou um tiro no...

Bafafá, tititi, o estalo clássico de um bofetão.

- Olha aqui, Ozônio Carlos, tu pode ser PM, machão, o escambau, mas respeita o pai, falô? Sou muito mulhé de te arrebentá esses corne de cafetão!

- Calma, Terezinha Dulce! Aí, ó, o pai tá geral chorando de novo.

- Leleco... sniff... Leleco...

Uma voz fininha de criança:

- A gente pode trazer o Leleco na mochila da escola e passar correndo pela portaria, mas...

Suspense.

- ... e se o maluco do Leleco latir?

Pra surpresa das filhas, como se fosse o choro de raiva e vitória de um recém-nascido, meu amigo solta uma vasta risada, a primeira em meses.

A Morte, trajando um modelito Cruela Cruel, retira-se, humilhada. Apesar de seu poder devastador, morre de inveja dos frágeis seres humanos: enquanto os desvalidos acharem graça na desgraça, sua vitória não será completa.

sábado, 2 de julho de 2005

CLOSER - Perto demais

The Blower's Daughter
Damien Rice
http://www.warnerbrosrecords.com/damienrice/
(botão direito do mouse sobre o link
e 'abrir em nova janela' pra ouvir enquanto lê.)

And so it is / Just like you said it would be / Life goes easy on me / Most of the time // And so it is / The shorter story / No love, no glory / No hero in her sky

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

And so it is / Just like you said it should be / We'll both forget the breeze / Most of the time // And so it is / The colder water / The blower's daughter / The pupil in denial

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to leave it all behind?

I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind...
My mind... my mind...
'Til I find somebody new



Eu vou estar aqui pra sempre, eu vou estar aqui para sempre, mesmo repetindo nunca nunca mais, eu vou estar aqui pra sempre...

Assim terminava o bilhete de despedida que ela nunca conseguiu escrever. O último e desnecessário adeus. Ninguém precisa de mais de um e eles já haviam tido vários. O primeiro e definitivo adeus foi dito há muito, muito tempo atrás em alto e claro som, vítreo como qualquer adeus ansioso por liberdade. Divulgado e propagado. Menos do lado de dentro.

Foi quando ela parou de dormir. Dormir tb é saber dizer adeus. Dar serenamente adeus ao dia que terminou e pôr-se pronto, inteiro e confiante para o próximo. Aceitar. Acordar vigilante e disposto para o futuro. Pra quem está se afogando, sentindo o tempo correr pra trás, é impossível dormir, o corpo todo pede socorro, implora, a mente não desliga, anseia, receia, negaceia, e o passado vai espalhando hera de ramos sem raízes pelos moldes do pensamento, mesmo os novos já se formam como os antigos, erráticos, vazios, fantasmas. É impossível dormir, move, move, move forward, ver os dias irem se acabando, sem sentir uma vontade incontrolável de jogar-se debaixo de um ônibus. Ela então pegou as horas e fez delas simples sucessões de fatos, um emendado no outro, cinco, dez, dezenove dias valendo por um só, as semanas, os meses, tantos anos e o pensamento ainda sente, e afirmaria até, que foi anteontem.

Desculpe por ligar assim tão tarde, ou tão cedo, já que são quatro e meia da manhã, mas eu precisava ouvir a tua voz e te dizer que... era assim que ela gostaria de começar a conversa. A conversa que nunca conseguiu ter, pra não precisar admitir desespero. Jamais vai ter coragem de ligar tão cedo ou tão tarde. Jamais vai ter condição de se perdoar. Mesmo sabendo que tanto silêncio assim pode até matar.

Eu teria feito qualquer coisa pra você voltar se achasse que faria diferença!! Me pede e eu faço!! Qualquer coisa... Era o que ela gritaria na frente de todo mundo quando o visse cara-a-cara novamente, aos prantos, unhando os próprios braços na tentativa inútil de calar-se, limpando o nariz na gola, sentindo os joelhos dobrarem, o laivo de vida que um resto de orgulho pode proporcionar esvanecer. É só nisso que ela pensa: quando não está obcecada pela ausência, está obcecada por colar os cacos de sua extensa coleção, o que dá na mesma. É como um emprego de tempo integral, que ainda exige longas horas extras e requalificação constante. Você está apto a segurar essa barra? Tem certeza que agüenta? Não é melhor perder mais alguma coisa importante antes de afirmar que já chega? Você não acha que já perdeu o bastante, acha? Você sabe que ainda precisa muito mais colhões pra aprender, não é? O que você escolhe? Que tal perder um filho? É perda bastante pra empedernir a sua casca? Passe no departamento de RH para pegar seu upgrade, ok?

Eu jurei que não ia mais te escrever, perdoa, é que eu mantenho os olhos desviados mas cabeça não desliga nunca, assim começava o bilhete que ela deixaria na porta dele, uma declaração de amor tão irrevogável quanto os delírios, um bilhete e uma única rosa vermelha já bem aberta, quase despetalando, que murchasse rápido como ela gostaria que esse amor, essa doença, esse susto, esse pavor passasse, desmanchando, murchando, sem deixar nem o cheiro, apodrecendo pra servir de adubo pra um futuro que ela já desistiu de esperar.

Não precisa conferir. Vá em frente sem olhar pra trás e não duvide nem por um único segundo. Qualquer coisa. É assim que é. Eu vou estar sempre aqui. Assim terminaria a promessa eterna e definitiva, a estranha dedicatória que nunca viria a ser publicada.

I can’t take my mind off of you...









alívio.