quarta-feira, 12 de abril de 2006

Caríssimo Szegeri

Perdoe a carta aberta, mas é um pouco por isso que essa pequena página tem esse nome, Cartas de Hades, e é nesse reino que estou agora, sofrendo de quilômetros.

Me disse a Vera Mello há uns dias: “amizade não tem limite, mas as pessoas têm”. A Vera é uma dessas pessoas que dizem verdades contundentes, estranhas, corretíssimas e, vez por outra, justo as que a gente não quer ouvir. Eu chego mesmo a me perguntar se ela existe, ou se eu inventei uma assim pra mim de medo de alucinar...

E eu preciso acalmar meu pequeno e arredio coração. Sempre fui pessoa parametrada. Tenho compulsões atávicas, medos incapacitantes e pensamentos moldados como embalagens de café à vácuo. Agora mesmo, enquanto escrevo, ouço, com uma vontade estranha e quase incontrolável de chorar, a Marisa Monte cantar “Vilarejo”. Parece que eu engoli um redemoinho, um bicho ensandecido da tasmânia, acho que comi um gremilin. Nem adianta falar da letra, eu tão palavra as ignoro solenemente, é a melodia, é a melodia, é a melodia... panãnãnãnãnã...

Onde eu estava? Ah, sim. A Vera falou. Disfarcei, acho mesmo que mal, meu desconforto com raciocínio tão simples. Tinha eu acabado de fazer um discurso sobre “se fosse meu amigo não faria isso”, blábláblá. E ela saiu-se com essa.

Entrei num diabo do tal parafuso de quilômetros. Os quilômetros me esgarçam como rosa dos ventos, puxando pra todos os lados e eu, péssima porém deslumbrada aluna de física, fico atrapalhadíssima no mesmo lugar. Meu irmão tem feito muita falta esses dias.

Como o texto do Braga que você publicou, estou agora revirando os bolsos da mente atrás de níqueis pra ir, não de avião, e sim montada num narval, atrás das minhas desimportâncias.

Beijo com saudades.