sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Continente

Como uma viagem no seio do tempo,

No ventre do espaço,

Como um furacão na poeira,

Um tsunami na praia,

Uma miragem no deserto.

Como a bala de prata

Do filme de caubói.

Como o lenço branco

Do pedido de paz.

Como o medo surdo

Do clandestino,

Como a dúvida –

Sempre atroz.

Como um passo, um laço, um navio.

Puro e sujo como água,

Verde e morto como África,

Você é continente...

O futuro que eu não viverei,

Meu único presente.

Por você, esgarço flancos,

Mordo em fúria imanente.

Por você, eu perco lastro,

Indolente.

Por você, lamentarei.

Eternamente.

domingo, 8 de novembro de 2009

Duas (e só duas) lágrimas por isso.

Mariana Leu Clarice Lispector

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

Ajudinha

A Vivi Fernandes achou o que eu perdi:


Já era

Era pra ser um poema de despedida,
mas cadê vontade?
Era pra ter sido uma noite sem bebida,
mas cadê coragem?
Era pra eu esquecer o teu cheiro,
mas ele é tão bom...
Era pra eu não reconhecer a tua voz,
mas eu ainda me arrepio!
Era pra eu ficar em paz,
mas você é muito atento.
Era pra eu não querer te ver nunca mais,
mas nunca mais é muito tempo.

Vai lá ver. Cada coisa mais linda que a outra.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mais de mil

Volto, aos poucos, às palavras.
Consegui ouvir música, imagina!!
Escrevi meio conto.
Li dois livros!
(Não pergunta em quanto tempo, me deixa comemorar...)
É quase como dizer que espiei de soslaio o espelho. Ainda vou olhar bem de frente e demorado.
E estarei nua.
Nua, não.
Só de batom cor-de-boca.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ponta de Areia


Milton Nascimento

Composição: Milton Nascimento & Fernando Brant

Ponta de areia ponto final
Da Bahia-Minas estrada natural
Que ligava Minas ao porto ao mar
Caminho de ferro mandaram arrancar
Velho maquinista com seu boné
Lembra do povo alegre que vinha cortejar
Maria fumaça não canta mais
Para moças flores janelas e quintais
Na praça vazia um grito um oi
Casas esquecidas viúvas nos portais

quinta-feira, 23 de julho de 2009

CERTEZAS

A carta estava debaixo da porta. Nem precisou procurar o rementente, já sabia que era dela. A letra tremida dizia:

Eu acho que só ouvisse.
Eu acho que estou em surto.
Eu acho que estou com medo.
Eu acho que tenho um treco.
Eu acho que errei a conta.
Eu acho que me esqueci.
Eu acho que vou morrer.

Eu acho que só mentira.
Eu acho que me assustei.
Eu acho que me arrependo.
Eu acho que fiz besteira.
Eu acho que ainda aprendo.
Eu acho que não consigo.
Eu acho que vou morrer.

Eu acho que nem sonhar.
Eu acho que errei a porta.
Eu acho que fugi do timing.
Eu acho que rebaixaram o céu.
Eu acho que roubaram o chão.
Eu acho que sumi da sala.
Eu acho que fui embora.

Rasgou tudo bem pequeno. Lembrou da frase que o pai dizia: "felicidade é um momento de concentração". Ajeitou o botão do paletó, vestiu óculos escuros, o canto direito da boca se ergueu indisfarçavelmente e ele saiu pela manhã afora assoviando “Por una cabeza”.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Pra anja que virou estrela

Pense num momento.
Um momento único,
Que você gostaria de congelar.
Um único instante de amor,
De carinho,
no qual o grande congresso universal
fez sentido
e se desvelou por completo a você.

Pense de quem é
a mão que está pousada
carinhosamente,
piedosamente,
amorosamente,
protetoramente,
sobre si.

Pense de quem são os olhos sábios
E brilhantes
Que nesse tal instante
Despejam sobre você
A plenitude do infinito,
A confiança cega,
A fé amolada,
A candura do não.

Pense de quem é o sorriso
que se estende
franco,
contagiante,
perene,
acima de todas as coisas,
sempre.

Pense.
Seu momento não tem a mão?
Olhos? Nem o sorriso?
Das duas, uma:
ou você não sabe nada sobre momentos,
ou nunca viu uma estrela.

Hoje é o Dia Internacional das Estrelas.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ajuda dos amigos.

Ajude uma pobre e desconsolada critatura a terminar seu trabalho final. =]
Use o campo de comentários, de acordo com a numeração abaixo.

Se você é jornalista, me ajude respondendo:
1. Você já se viu envolvido em alguma polêmica relacionada à ética?
2. Que postura jornalística pouco ou nada ética chamou a sua atenção no noticiário recente?
3. Qual o pior defeito profissional que pode ter um jornalista?
4. A obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão vai fazer falta ou diferença?
5. Até onde você iria no desempenho da profissão?

Se você não é jornalista, ajude também respondendo:
6. Sua atividade profissional tem seu próprio código de ética?
7. Que postura jornalística pouco ou nada ética chamou a sua atenção no noticiário recente?
8. Você acredita em jornalismo imparcial?
9. A obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão vai fazer falta ou diferença?
10. Falta ética aos veículos de comunicação atuais?

Muito obrigada. Sua alma vai ficar na mesma, mas eu te devo essa. ;)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Olha o que eu ganhei de presente!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Refém

A minha língua vai seqüestrar o seu corpo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Salva-vidas

Quero fazer com você um pacto.
De sangue, pra ser duradouro.
De carne, pra ser forte.
Com a alma, pra ter efeito.

De boca, pra ser gostoso.
De riso, pra ficar leve.
De luz, pra dar frutos.
Com os dentes, pra tirar dúvida.

De mentes, pra ter razão.
De ossos, pra ficar reto.
De línguas, pra fazer curva.
Com as mãos, pra ter afago.

De futuro, pra dar tempo.
De beijos, pra ter certeza.
De vida, pra ficar serena.
De amor, pra ser todo seu.


Finalmente!

De cara nova.
Tava precisando.

A outra cascuda? Quem sabe, em breve. =]

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A Voz Do Silêncio - Marta Medeiros





Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Não põe corda no meu bloco

PLATAFORMA
João Bosco e Aldir Blanc

Não põe corda no meu bloco
Nem vem com teu carro-chefe
Não dá ordem ao pessoal
Não traz lema nem divisa
Que a gente não precisa
Que organizem nosso carnaval
Não sou candidato a nada
Meu negócio é madrugada
Mas meu coração não se conforma
O meu peito é do contra
E por isso mete bronca
Nesse samba-plataforma
Por um bloco que derrube esse coreto
Por passistas à vontade
Que não dancem o minueto
Por um bloco sem bandeira ou fingimento
Que balance e abagunce
O desfile e o julgamento
Por um bloco que aumente o movimento
Que sacuda e arrebente
O cordão de isolamento.
Não põe no meu.


Não põe corda no meu bloco
(Chico Alencar)

O Brasil é o país do carnaval. Além de título de livro do Jorge Amado, essa é uma marca cantada em prosa e verso por muitos poetas e músicos que engrandecem a nossa cultura. Recife, Olinda, Salvador, entre tantas outras cidades brasileiras, sempre tiveram grande expressão na imensa festa popular que recobre por inteiro o nosso território.
No entanto, vale reivindicar para os cariocas um lugar de destaque na constelação festiva. Lembrando o hino da Velha Guarda da Portela, segundo o qual "o nosso teor não é humilhar a ninguém", o carnaval do Rio de Janeiro é uma festa popular maravilhosa.
As festas populares, na história da humanidade, são sempre denúncia e anúncio. Denúncia, pelo riso e pela ironia, de tudo que entristece a vida, machuca as pessoas, suja o mundo e encarece o pão: fome, doença, opressão. Anúncio do céu na terra que há de vir, com um planeta solidário e justo, costurado em festa, trabalho e afeição. Os seres humanos, ao longo do tempo, comemoram colheitas, chegadas de primaveras, independências, fim de guerras, negação de inferno. O carnaval, no Brasil, também nasceu assim: a válvula de escape oferecida pelos senhores de escravos, nos dias que antecediam a Quaresma, foi se transformando em folguedo, folia, celebração da liberdade e da alegria de viver.
O povo, que mói no áspero o ano inteiro, ocupa as ruas com seu inesgotável estoque de alegria. E faz a festa do portentoso descarrego para as agruras de um cotidiano pesado e difícil. O desafogo é cronometrado, mas o que nele transborda é a alegoria da liberdade, que faz de Momo o único rei que a multidão aceita. Até quarta-feira, quando tudo volta ao normal, o que prevalece é a festa reveladora da vitalidade perene da presença popular. Nela se manifesta, como aspiração de uma vida melhor e mais feliz, aquilo que o cronista João do Rio chamava de "alma encantadora das ruas".
O carnaval do Rio é o carnaval de rua. O carioca, de nascimento ou adoção, é versado em resistir, insistir e não desistir da vida plena. Em matéria de resistência cultural, o Rio é um bloco em cada esquina. O Cordão do Bola Preta, símbolo maior, e a Banda de Ipanema, com Leila Diniz de eterna rainha, abrem a lista. Na seqüência interminável, uma infinidade de nomes onde a festa popular monta trincheiras de combate. Pela ordem da antiguidade: Clube do Samba, do saudoso João Nogueira, Barbas e Simpatia é Quase Amor. Em seguida, Suvaco de Cristo, Bloco de Segunda, Escravos da Mauá, Imprensa que eu Gamo, Meu Bem eu Volto Já, Nem Muda nem sai de Cima, Carmelitas e tantos outros. O Cordão do Boitatá, com seus maxixes na Praça Quinze, o Céu na Terra, que faz jus ao nome, o Rancho Flor do Sereno, no Bip Bip do Alfredinho. Os metais e frevos do Bloco da Ansiedade, a festa das crianças no Gigantes da Lira e o batuque familiar do Bagunça meu Coreto, além da promessa potencial do Esse é o Bom, mas Ninguém Sabe. São tantos, centenas ou milhares, e a cada ano surgem outros tantos: Marcangalhas,Vem ni mim Qui Sou Facinha, Badalo, Largo do Machado mas não Largo do Copo...
Nos blocos de rua do Rio de Janeiro não existe cordão de isolamento nem se exige abadá: é só chegar, com a "moeda" da fantasia inventada na hora e a disposição de entrega harmoniosa ao festival coletivo. Alegria não paga entrada. A cidade do samba, nos dias de carnaval, é a cidade inteira. Mais do que no espetáculo grandioso do Sambódromo, aprisionado pelo esquema empresarial da Liga que controla o desfile oficial, é nas ruas e becos da cidade que sobrevive e se alimenta o espírito libertário do carnaval carioca. Sem tal espírito, a materialidade da Sapucaí se desmancharia no ar. O concreto aparente, a parafernália eletrônica que monopoliza a transmissão, a grana que se reproduz nos desvãos da festa, além das celebridades siliconadas, são camadas superpostas sobre a força cultural do samba carioca. Até os grandes sambistas, músicos, passistas e carnavalescos que lá se apresentam sabem disto. Espantado com o aparato do espetáculo, um samba da velha guarda afirma nostálgico: "Portela / conheço teu passado / pertenço a tua raiz / no tempo da simplicidade eras mais feliz".
Oswald de Andrade, em seu "Primeiro Caderno de Aluno de Poesia", define a mescla na qual se origina a festa carnavalesca onde o Brasil se reconhece. Segundo ele, o Zé Pereira chegou de caravela e perguntou para o guarani da mata virgem: "sois cristão?" Recebeu como resposta sincopada: "Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte. Teterê, tetê, Quizá, Quizá, Quecê. Depois o negro zonzo saído da fornalha tomou a palavra e respondeu: "Sim, pela graça de Deus. Canhem Babá, Canhem Babá, Cum Cum! E fizeram o Carnaval". Os filhos da mata virgem, os filhos dos Quilombos e Quizombas, os filhos do sapateiro Zé Pereira formam as raízes que fazem do carnaval carioca uma festa popular maravilhosa. Evoé, Momo!

Agradeço a atenção,
Sala das Sessões, 18 de fevereiro de 2009.
Chico Alencar
Deputado Federal, PSOL/RJ

domingo, 18 de janeiro de 2009

espelho

DA CHEGADA DO AMOR

Elisa Lucinda Sempre quis um amor que falasse que soubesse o que sentisse. Sempre quis uma amor que elaborasse Que quando dormisse ressonasse confiança no sopro do sono e trouxesse beijo no clarão da amanhecice. Sempre quis um amor que coubesse no que me disse. Sempre quis uma meninice entre menino e senhor uma cachorrice onde tanto pudesse a sem-vergonhice do macho quanto a sabedoria do sabedor. Sempre quis um amor cujo BOM DIA! morasse na eternidade de encadear os tempos: passado presente futuro coisa da mesma embocadura sabor da mesma golada. Sempre quis um amor de goleadas cuja rede complexa do pano de fundo dos seres não assustasse. Sempre quis um amor que não se incomodasse quando a poesia da cama me levasse. Sempre quis uma amor que não se chateasse diante das diferenças. Agora, diante da encomenda metade de mim rasga afoita o embrulho e a outra metade é o futuro de saber o segredo que enrola o laço, é observar o desenho do invólucro e compará-lo com a calma da alma o seu conteúdo. Contudo sempre quis um amor que me coubesse futuro e me alternasse em menina e adulto que ora eu fosse o fácil, o sério e ora um doce mistério que ora eu fosse medo-asneira e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor, sempre quis um amor que sem tensa-corrida-de ocorresse. Sempre quis um amor que acontecesse sem esforço sem medo da inspiração por ele acabar. Sempre quis um amor de abafar, (não o caso) mas cuja demora de ocaso estivesse imensamente nas nossas mãos. Sem senãos. Sempre quis um amor com definição de quero sem o lero-lero da falsa sedução. Eu sempre disse não à constituição dos séculos que diz que o "garantido" amor é a sua negação. Sempre quis um amor que gozasse e que pouco antes de chegar a esse céu se anunciasse. Sempre quis um amor que vivesse a felicidade sem reclamar dela ou disso. Sempre quis um amor não omisso e que suas estórias me contasse. Ah, eu sempre quis um amor que amasse. (Poesia extraída do livro "Euteamo e suas estréias", Editora Record - Rio de Janeiro, 1999)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Vírgula

Não me toca.
Não se atreva, não fala.
Não pergunta.
Principalmente,
não provoca.
Estou em carne viva.

Não me toca.
Não me cobra, pára.
Não assunta.
Pacientemente,
me reserva.
Estou, em carne, viva.

Não me toca!
Não se move, não sai!
Não disjunta...
Secretamente,
me degusta.
Estou em carne, viva.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009