sábado, 24 de julho de 2010

UM CENTÍMETRO E MEIO

Uma moeda de um real tem um centímetro e meio.
Com ela dá pra comprar um pão
E matar a fome.

Um classificado tem um centímetro e meio.
Com ele vende-se um apartamento
Pra sumir no Canadá.

Uma lombada de Saramago tem um centímetro e meio.
Nela cabe um mundo de histórias
Pra matar outra fome.

Um selo postal tem um centímetro e meio
Com ele mando notícias pra quem espera
Viver no antigo  eu-que-fiz-pra-você.

Uma palheta do Ciro Visconti tem um centímetro e meio
E carrega a gente pra uma dobra onde o som
É só o coração da memória.

Um sachê de sal tem um centímetro e meio
Sorriso amarelo pra quem precisa estar certo
Ainda que se ame o errado.

No ultrassom, um centímetro e meio, O Feijão tem!
Causa dele, não sofro, não corro, não peço socorro nunca mais.
Virei luz. Amém.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

ACALANTO DO AMOR PRA SEMPRE

Pra Cabel.

Dorme, meu amor, o sono dos justos.
Dorme o sono que te protege
Dos males da vida,
Da indiferença, do azedume do rancor.

Dorme, meu amor, o sono dos anjos,
Que te resguarda da hipocrisia,
Do desalento e da ruína
De provar dissabor.

Dorme, meu amor, que te protejo
Do teu sonho de criança velado
Cuidarei eu
Do teu sonho acordado de adulta
Cuidaremos juntas.

domingo, 11 de julho de 2010

Convite


Preciso dizer que te espero? =]

terça-feira, 6 de julho de 2010

Furto

(da arte de ser ida)

Transitória e de passagem,
ela observa
estática
a paisagem
em movimento.
Mesmo parada,
o dia continua indo,
a noite continua vindo,
e não há maré que
nessa hora
se interrompa porque
o tempo da moça
não é pra agora.

Há que mover e partir,
sem adeus formal
cristalizado
que nem é mais
necessário.
Achado o adeus implícito
da descrença e
do descaminho,
está forjada,
e temperada
,
a partida
mais exuberante,
pelos sonhos indomados
e tão falantes
(reais depósitos
de desatinos,
que esfacelam até
a mudez determinada
dos silêncios cabotinos
e transformam propósito
em talante).

É na despedida calada
que o tempo, caprichoso,
expõe a face veraz e petrificada
das decisões equivocadas.

É no vazio da inanidade
que nos são roubadas,
por outros mais vorazes,
as razões e as mulheres mais amadas.