domingo, 30 de janeiro de 2005

Âmbar

(Adriana Calcanhotto)

Tá tudo aceso em mim
Tá tudo assim tão claro
Tá tudo brilhando em mim
Tudo ligado
Como se eu fosse um morro iluminado
Por um âmbar elétrico
Que vazasse dos prédios
E banhasse a Lagoa até São Conrado
E ganhasse as Canoas
Aqui do outro lado
Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

ASCENDENTE: ESCORPIÃO

Tens, Acima de tudo, charme.
Uma personalidade incandescente
incêndio de cais do porto
lucipotente
despertando a cidade à meia-noite.
Sorri, acorda a manhã...
Carinho e parcimônia
pré-dispostos em polidez pontiaguda.
Olhos de sombra altimurados
explodem acidez
e sangram a minha nostalgia.
Cai o pano e estás comigo.
Desperto, quase lúcida,
desse sonho, sonho mesmo
que teu bom-dia é fio terra
eletrochoque.
Energia que é cósmica
e que terrena
espero que ao meu lado amiga esteja,
companhia sincera para quem almeja.
No futuro serás livro,
farás parte do contexto
e espero que compreendas o exagero do artista
de viagem imaginária
e que ainda assim amigo,
permaneças encantado...
mais e mais e sempre
charme.
Porque...
Não fosse raio, terremoto.
Um processo de consciência
súbita de tua recendência
no abismo da incompreensão
do medo de tua leitura.
Ansiosa de tua sombra,
impactada de ciúme,
permaneço indignada,
obscura, encolhida,
medo de novo.
Que não tenha tantos metros,
mas o gosto é o mesmo sempre,
de café passado na hora
com broa que acabou de sair do forno.
(Encarar a plenitude de um olhar e sustentá-lo além da solidão.)
Espero que não faças dele motivo para alarde,
nem que te afastes temendo que já seja muito tarde,
e que continues nascente que estás sendo,
esbanjando teu império,
espargindo elação,
e que saibas distinguir
teu real do meu imaginário
na certeza de sucumbir ao charme.

Lá vem o Estadual...

Não é nem muito novo, nem muito velho, mas continua atualizado, infelizmente.

Pasárgada vascaína

Luis Fernando Veríssimo escreveu, se não me engano em 1998, crônica em que comparava o desejo de Manoel Bandeira de ir-se embora pra Pasárgada — onde era amigo do rei —, com o sentimento nacional relacionado ao poder. Aspas:

“Para alguns, ser amigo do rei significa ter influência no governo, qualquer governo. Para outros significa ter dado o passo mágico com o qual, no Brasil, os que estão por fora passam para dentro. Ter transposto o balcão que separa os que atendem mal dos que são mal atendidos pelo Estado. O serviço público é a Pasárgada de muita gente, mesmo que, ao contrário da Pasárgada de Bandeira, não tenha tudo nem seja outra civilização, seja um serviço mal pago com pouco privilégios. Não importa, está-se ao lado do Rei, livre da danação de ser apenas outro cidadão brasileiro.”

O que o Vasco tem a ver com isso? Tem que lá, na nossa Pasárgada, até o rei quer ir-se embora, quer também ser amigo do rei. Cercar-se de reis. Entende? Os vereadores em torno dos prefeitos. Os prefeitos amigos dos governadores. Os governadores cercando os senadores. Os senadores com os desembargadores. Os desembargadores e... bom... os desembargadores e o Papa. Dizem que os desembargadores são os únicos fora de Roma que conhecem a verdade sobre o terceiro segredo de Fátima. Tergiverso, é verdade...

Esse é o caso. O presidente diz que Romário joga quando quer. Romário tem toda a compreensão do mundo com a dívida que ficou pra trás. O presidente antecipa a conquista de um título e a principal organização de torcedores não estrilou. Vê? O clube não interessa. O torcedor não interessa. Besta é tu, o que todo mundo quer é ser amigo do rei. Continua Veríssimo:

“Agora, Pasárgada mesmo, Pasárgada além da sonhada, é não ser só amigo do Rei, é ser da sua corte. Ser da minoria dentro da minoria que desmanda no país. Estar no centro dessa teia de cumplicidades tácitas que sobrevive a toda retórica reformista e enreda, suavemente, quem chega a ela, por mais bem intencionado que chegue. É uma confraria sem estatutos ou regras claras, uma confraria que nem bem conhece a si mesma. Você só sabe que está em Pasárgada, e que é bom. Como existem cemitérios de automóveis, Brasília deveria ter, nos seus arredores, um cemitério de boas intenções, descartadas na entrada da corte. O truísmo que todo poder corrompe tem sua versão brasileira: aqui o poder, além de corromper, ameniza.”

E, no caso vascaíno, ameniza também a vergonha. Ameniza a indignação, a responsabilidade alheia e a capacidade de cobrar. Ameniza o amor próprio. No Vasco, começando na diretoria, passando pelo MUV e terminando na FJV, a corrupção do poder expõe sua face mais cruel: é doce, como são as vinganças e homeopáticas como as primeiras doses do vício. Criou-se uma cultura de picuinhas internas, onde é mais importante azarar o rival que vibrar pelo próprio clube, e ainda por cima é condescendente com as próprias falhas. Uma cultura que insiste em forjar responsáveis, enxerga complôs e inimigos em todo lugar, numa esquizofrenia descontrolada e nunca, nunca olha o próprio rabo nem cogita ação direta. A verdade é que nenhum Leve e Souto sobreviveria tanto tempo no rival. Nenhum Wesquem?! sobreviveria tanto tempo no rival. E digo mais: no rival, o sujeito que conseguisse a façanha de perder todos os últimos grandes craques que passaram pelo clube por incompetência administrativa já teria tido a cabeça sumariamente cortada. No rival, um rombo financeiro dessas proporções e tamanha lapidação do patrimônio (considerando imagem e reputação como o patrimônio mais importante de qualquer clube) seria caso de polícia. E de que rival eu estou falando? De qualquer um! Qual-quer um! Exceção feita ao, como diz meu sobrinho, Curíntia, que hoje sofre com o Seu Sentadim como nós aqui sofremos com nossos fantasmas. Essa moeda parece ter duas faces distintas, mas tem uma só. Quem é a favor do atual presidente por conquistas e títulos do passado, pode até ter suas razões. Mas querer manter esse discurso sempre atualizado, esquecendo dos últimos vexames, é muito complicado. Acho difícil conseguir encontrar em qualquer vascaíno isenção e coerência. No fim das contas, situação e oposição se acusam de coisas semelhantes: ou se está fazendo o papel do cego que não quer ver ou vendeu-se apoio por pouca merda, a tal corrupção pela proximidade com o poder.

Da mesma forma, estar “sob as asas da FJV” hoje — só porque é bom estar cercado de uma grande torcida, só porque é bom sentir-se integrante e elemento ativo, ou então porque faz parte ter com quem contar se der porrada, ou lá o que seja a amoralidade do sujeito —, também é estar corrompido e cego. É querer ser a minoria dentro da minoria, como no texto do Veríssimo. Da mesma forma que reclamar da imprensa é ser simplista e não compreender que a imagem do clube e do torcedor vascaíno pode estar sendo transmutada para sempre (transmutação: formação de uma nova espécie através do acúmulo progressivo de mutações na espécie original) e isso vem de dentro pra fora. Da mesma forma, depois de tanta lenha na fogueira e tão pouca bala na agulha, o MUV devia rever os seus conceitos, isso pra dizer o só mínimo... Parece claro que alguma coisa não está funcionando como deveria.

Minha cruz-de-malta não tremula numa bandeira nem pisca num placar luminoso. Minha cruz-de-malta está incendida no peito, no meu coração, que é a minha Pasárgada, da qual não vendo nem arrendo um só pedaço, e aonde o rei sou eu.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

MANDALA QUENTE

...passarinho verde passou e adiantou meu presente de aniversário...
Parece que o verão vai finalmente começar e o tenebroso inverno vai ficar definitivamente para trás. :) Posted by Hello

sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

:: Aldir Cronista - BODAS DE OURO

(Mais uma pra matar as saudades... Publicada no livro "Um cara bacana na 19ª")

Preciso registrar uma efeméride: sábado, 7 de outubro de 95, tive o prazer e a honra de atuar como Mestre de Cerimônia, aqui em casa, nas Bodas de Ouro de meus pais, Helena e Ceceu. Estiveram presentes, ao vivo e a cores: Toninho Sorvete, Waldyr Iapetec, Buda, o terrível Walcyrzinho, o bravo Dr. Ricardo Oliveira (coitado, trata da família toda), Viegas Bico-Fino, Dalva - rainha do frevo e do maracatu, cumadre Ize Isaura, Graça - a verdadeira castanha da Caju Music, Edu Búzios, uma lista de personalidades capaz de fazer o Swann bancar o pato.

Meu pai é um homem afável mas tem seus particulares: não gosta de festa e de visita. Em sua casa, no Estácio, mantém um rifle encostado na janela da frente. Dizem que é pra detonar, caso alguém toque a campainha sem ter avisado com um mês de antecedência. Ceceu não abre exceção nem pro carteiro. O técnico da televisão tem que mandar batedor e fazer sinal de fumaça lá do Rio Comprido. Não foi fácil convencer a fera de que 50 anos não são 50 dias. Na primeira tentativa de conversa ele avisou:

- Se tiver missa, posso até, em respeito ao recinto, livrar a cara do padre, mas o sacristão entra na porrada.

Diante disso, Mari Lucia deu a idéia salvadora: chamar um pessoal de música, Jorge Simas no 7 cordas, Jayminho no cavaco, Diniz no piston, Renan no baixo. Na voz, D. Zilda e Cristina Buarque. Baiano no afro-catarro, Guinga na harpa, Sodré no pandeiro, Mello em si mesmo (tantã), tudo gente fina. O champagne ficou a cargo do meu irmão Marco Aurélio, o último gentleman do Rio de Janeiro. Moacyr Luz, registrou, com uma pronúncia de fazer o Macaco Tião tomar Haloperidol injetável:

- Gente, é francesa! Um monte de garrafa de Vê-si-quicô!

No primeiro compasso de "Flor Amorosa", com exatos quatro segundos de festa, mamãe passou mal. Nôu próblein, disse o Moacyr Luz, com uma pronúncia de fazer o Macaco Tião entrar pra igreja universal. Havia inúmeros médicos presentes - inclusive eu, pomba! Foi Deus que me iluminou quando resolvi maneirar na bebida. Eu, momentos antes, presenteara o jornalista Pimentel com minhas próprias calças, mas não teve nada a ver com birita. Foi emoção. Também falei inglês, alemão e baixo-azerbaijano com o César Tartáglia, mas parei com a brincadeira porque o Moacyr Luz entrou na conversa em esloveno setentrional com uma pronúncia de fazer o Macaco Tião dançar funk.

Levamos mamãe pro quarto. A junta médica não titubeou: vesícula. E agora? O silêncio foi tremendo. Parecia que alguém tinha sugerido investigar as empreiteiras. Ceceu salvou a festa:

- Só se for da genitora dos esculápios. Helena tirou a vesícula há 20 anos.

Aliviada, mamãe levantou da cama no ato:

- Bom, se é vesícula e eu já fui operada, bola pra frente. Vamos voltar pra sala.

A partir daí, correu tudo às mil maravilhas. De vez em quando, eu ía pro banheiro chorar. Foi Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que me manteve sóbrio. Eu entrava no banheiro, caía no choro, e o Macaco Tião (que estava lá dentro, escondido do Moacyr Luz) me abraçava:

- Chora, meu nego. Teus pais são uma gracinha.

Detalhe: havia inúmeras crianças na festa, incluindo meus oito netos: Pedro, Milena, Joana, Huguinho, Zezinho, Luizinho, Cebolinha, Magali, Mônica, Tico e Teco. Fiz bem em não exagerar na bebida. É lindo ser avô e ver todos os netos, quatorze, quinze, sei lá, reunidos, ao lado de minhas quatro filhas: Patricinha, Tati, Marianinha, Belzinha, Juju, Line, Marina e Dadá.
Crianças choravam a plenos pulmões, os músicos tocavam como se estivessem afundando com o Titanic - atacavam a introdução de "Carinhoso" e o Moacyr Luz entrava cantando "I could have dance all night". Embalado, Moa declamou em homenagem ao casal:

Como diz o Paulo Francis nos estêitis:
Middlesborough é dose pra Bill Guêitis!
Fífiti years, milórdis an' milêidis.
Evoé! Enerjaizer, gatorêidis!
E náu, queiram me perdoar:
vou levar o Juninho pra espirrar.


Com essa, o Macaco Tião se afogou na banheira. Próximo ao corpo, um bilhete: "Agüentei dromedário, hipopótamo e elefante, mas essa pronúncia é demais pra mim. Sou macaco mas exijo respeito".

Sóbrio e comovido, tive um insight lírico:

- Que tal comermos as velas à luz do bolo?

Foi aí que um garotinho que não reconheci, mais um neto meu?, tirou a cara do livrinho de história e perguntou:

- Que qui é antílope?

Well, antes que alguém pudesse fazer contato com o prontocor, meu sogro e guru, Zezeco Sá Freire, ex-membro da guarda pessoal de Getúlio, deu ao kid abelha uma verdadeira aula inaugural:

- Esses delicados animais são um capítulo à parte da Veadologia Geral e Comparada. Por exemplo: se um marmanjo pinta a cara feito louca, bota peruca ruiva, se enfia num vestido vermelho de babado e vai cantar Babalu em buate na Lapa, é veado propriamente dito. Se o espécime é festivo e gosta de dar presentes, trata-se de uma rena, a melhor amiga de Papai Noel. Quando sai no tapa e dá sandalhada, é cervo: mete o chifre, coisa e tal, mas acaba tudo em desenho animado, tipo Bambi. Agora, quando escreve resenha de livro de poesia do amigo naqueles suplementos literários de São Paulo, aí é antílope. Sacou?

Os convivas foram saindo de fininho. Também vou nessa. Como diria o Moacyr Luz: outra vitória da ilusão. Gudinaightzwt#$*&%*.
Aldir Blanc

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

:: sem parar >> If I Can't Have You

(Já vi que vai ser isso depois de todo bloco, depois de toda vista, é bater e valer, lembrei na hora: "tinha dia e hora marcados pra acabar", não sabia? Bom de ouvir com o som muito, muito alto... Espanta tudo!! Espia)

Yvonne Elliman

Don't know why
I'm survivin' ev'ry lonely day
When there's got to be no chance for me
My life would end
And it doesn't matter how I cry
My tears, so far, are a waste of time
If I turn away
Am I strong enough to see it through
Go crazy is what I will do

CHORUS:
If I can't have you I don't want nobody, baby
If I can't have you...uh-huh, oh
If I can't have you I don't want nobody, baby
If I can't have you...uh-hoh

Can't let go and it doesn't matter how I try
I gave it all so easily to you my love
To dreams that never will come true
Am I strong enough to see it through
Go crazy is what I will do

(CHORUS)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

La Barca de Caronte
Óleo sobre lienzo, 103 x 176 cm
Ingresa en el Museo en 1932 por donación
de José Benlliure Gil.
 Posted by Hello

:: sobre o ano que se apresenta aí na porta

Essa foi a mensagem de ano-novo mais legal que eu recebi.
Veio de um amigo muito querido, o Zander.


"
Esse tal de 2005, que tá chegando aí, será, definitivamente melhor que 2004, esse outro que está a acabar. E isso não é uma esperança minha, ou um fruto de fé (essa crença ilógica na ocorrência do improvável), ou mesmo uma repetição de um desejo quase que cultural, atávico mesmo, de esperar que o ano novo traga mais amores, mais dinheiro, mais saúde, mais felicidade (essa coisa etéria, irrealizável). 2005, não acho, tenho certeza, trará mais amores (em quantidade, gênero, número e intensidade, à escolha do freguês), trará mais dinheiro (para pagarmos as contas, que não cessam), mais saúde (e doenças, conseqëntemente, para ficarmos mais e mais resistentes e resilentes) e algumas felicidades. Ainda assim, isso não faria 2005 melhor que 2004. O que fará 2005 melhor é o fato que teremos a vivência e a experiência de todo o 2004 para acertarmos e errarmos novamente, para olharmos para o passado e termos um ano inteiro para nos tornarmos pessoas melhores. E eu sei que me tornarei uma pessoa melhor. Você não? Bom 2005!
"

sábado, 8 de janeiro de 2005

Ausência.

Esse foi um final de ano um pouco... ahn... conturbado.
Falamos sobre isso depois.
Aí vão dois textos novos.
E desculpas pelo tenebroso inverno.

SANTO ANTONIO VIANNA



“Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu seu filho ungênito, pra que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna.”
Evangelho de João, capítulo 3, versículo 16.




Houve um tempo em que os santos eram homens de causas mui nobres, de agudo senso de justiça, de dever, de honra, de forte caráter talhado nas rochas mais duras. Verdadeiras fortalezas de espírito e de fé. Seres abnegados, que abriram mão do próprio conforto em nome dos mais fracos, empenhados em proteger desvalidos.

Era necessário provar inúmeras vezes cada um dos milagres, era preciso arrepender, confessar, redimir. Era preciso ter testemunhos, provas, e até amigos influentes algumas vezes.

Noutra época, os amigos influentes falaram mais alto e os santos podiam ser apenas grandes beneméritos com uma taumaturgia breve. Muitos foram os que, abençoados pela igreja, tiveram seus nomes imortalizados pela canonização. Um sem número de processos ainda aguarda a decisão final, incontáveis foram recusados.

Mas, em matéria de taumaturgia, nenhum superou Santo Antônio. Padroeiro dos pobres, casamenteiro, evocado para busca de objetos perdidos, famoso orador, o frei franciscano é um dos mais populares da igreja e aquele que tem a lista mais vasta de milagres atribuídos.

Essa semana, nós, minha família, perdemos um Antônio. Um que não era santo, nem famoso, a única ficha corrida era a conta do butiquim, mas também foi, a seu modo, um exemplo de retidão, de honestidade, de valor. Também foi bom orador, quando ele contava histórias, os outros calavam pra ouvir; também viveu dedicado a proteger os seus; também possuía um aguçado senso de justiça e do dever. Foi embora assim, de repente, sem dar-nos tempo de acenar o adeus.

Deixa pra todos nós lições valiosas, prinipalmente sobre a importância da família, do trabalho árduo e da amizade.

Algumas pessoas que crêem num Deus punitivo e vingador associam perdas e derrotas com castigos, proporcionais aos pecados atirados aos céus. Mas dessa vez, nem o mais feérico defensor da fúria divina nos convenceria. Porque, apesar de sermos muitos, nem todos os nossos pecados somados seriam capazes de gerar provação tão tamanha. Se aconteceu, é porque era hora. E só. Cabe a nós, cada um dentro de si e no amor aos outros, encontrar a força e principalmente enxergar que todo sacrifício só tem valor se for reconhecido.

Reconheçamos pois, em agradecimento pelo privilégio do convívio. Se ele é pra nós eterno, e perpetuado será a cada lembrança, quem sabe... quem sabe um dia também alcancemos essa benção. Nenhuma montanha será alta demais, nenhum rio será extenso o bastante, haja o que houver nenhum caminho será suficientemente árduo pra evitar que o abracemos no outro plano. Eu vou levando os copos, quando eu chegar as cervejas já devem estar geladas.

E façamos uma última prece, ato não de consagração, mas de esperança:

Grande e bem amado Antônio Vianna
teu amor a Deus e ao próximo,
teu exemplo de vida cristã
fizeram de ti um dos mais queridos desta família.
Te peço tomar sob tua orientação valiosa
nossas ocupações, empreendimentos
e toda a nossa vida.
Estamos convencidos de que nenhum mal
nos atingirá
enquanto seguirmos teu exemplo.
Proteja e defenda, somos pobres pecadores.
Olhe, como sempre, pela necessidade dos teus,
e dê um passo a frente diante do mestre,
pois teu lugar está guardado ao lado Dele..
Pelo caminho dos teus passos,
Deus aumentará nossa fé e caridade,
minorará os sofrimentos,
nos livrará de todo mal e não nos deixará sucumbir.
Ó Deus poderoso, cuidai de nós
afastai os perigos do corpo e da alma
e nós, com vosso auxílio,
viveremos em paz até a hora de partir
ao reencontro
com nosso amado pai, marido, filho, irmão, tio e grande amigo.
Come what may....

Nos veremos em breve, tio. Boa passagem.

BIÃO, O ANFITRIÃO

Na casa de Bião, o anfitrião,
o que se procura
nunca se acha.
Cuidado se quebrar copo
talvez não haja pano de chão.
A porta da geladeira
às vezes fecha,
às vezes não.
Cerveja em ponto de bala?
Eu não contava com isso, não.

Na casa de Bião, o anfitrião,
o que se procura
às vezes aparece.
Sem alento de amigo nenhum,
vá se chegando,
sempre cabe mais um.
Há muita alegria e música,
cheiro da casa da vó da gente
que não se esquece,
jeito de cafuné com pipoca e preguiça...
Mas também não esqueça
que o botão da descarga
tem dias que enguiça.

Na casa de Bião, o anfitrião,
o que se procura
sempre se encontra,
se não for atrás de confusão,
mas de linha de passe bem jogada,
de boemia sem encenação.
Ou até se você for parecida
com a moça tonta,
tremenda malcriada,
que gosta mesmo
é de levar palmada
(palmada bem dada
pra quem não quer nada).

Na casa de Bião, o anfitrião,
o único senão:
você pode encontrar
o que não estava procurando.
Aviso
aos desavisados,
aos zelosos demais,
aos céticos demais,
aos descrentes demais,
aos sérios demais,
aos covardes demais
e a todos os outros infelizes,
que achar sem procurar
pode ser até prazeroso.
Ou muito mais perigoso
do que nunca encontrar...