domingo, 17 de outubro de 2004

BREVES DISPERSÕES AMOROSAS

Ah... de tanto amar esse meu amor que é tão tamanho e eu no entanto ponho-me a esperar portanto algo que, com espanto, tire-me o ardor desse olhar profundo já quase diurno dando volta ao mundo e suspirando o vento, ele próprio já é um suspiro mas suspira junto de tanto te esperar hoje e sempre e tanto, voltei pro espanto, onde está que não encontro, tanta vida e sonho e seu eu me casasse, e se eu comprasse um velocípede, ainda te amaria muito mas te seguia, e perseguiria, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que...

Ah... mas nem pensar que acaba, que esta vida já é mesmo quase nada, este é o purgatório, quando acaba é que começa e se eu só te vi agora, quando vier a aurora de uma vida outra, trancafiados no promontório do destino, ai de ti, que não te deixo nunca mais, e foda-se o mundo, não me chamo Raimundo, a vida dá muita volta, estrelas na veneta do lunático amante delirante que apostou com lua fazer da amada estrela sua.

Ah... nem que eu quisesse de mim te livraria, o estrago foi tamanho daqueles sem volta, e a culpa é toda tua que veio com essa boca, feita pra minha boca, nunca vi nada parecido com o encaixe dessas bocas e quanto mais eu digo bo-ca mais a minha fica louca, eu fico repetindo BO-CA que essa som tem mesmo som de boca e ouvir alguém dizendo BO-CA dá vontade de beijar.

Ah... me esqueci o que eu dizia, algo sobre o que eu não faria, mas por você faria tudo e até de mim te livraria, com estante e tudo, e obras completas do Manoel de Barros, ou quase completas, que tem um livro dele de 52 que eu não consigo achar, mas se eu achasse ficava sem o livro de novo, porque eu te daria o livro de 52 e todos os outros também.

Olha, vê bem se me escuta, que a gente quando ama o feio bonito lhe parece, agora imagina a minha situação que você já era lindo e eu nem te amava, então guarda essa bo-ca que eu não consigo falar e beijar ao mesmo tempo, guarda essa BO-CA na minha que eu... ai...

Olha, eu queria te dar um casaco de vison e um anel de brilhantes, na Playboy diz que a gente põe o anel preso no caule de uma rosa, no meio de um buquê, mas essas coisas ficam bem melhores numa mulher, então eu trocaria tudo pela poesia, uma gota de cada oceano, faixas longas de luar, pedrinhas do Taj Mahal, vitrilhos das igrejas da Sicília, lava do Vesúvio e umas receitas da Madame Min e da Maga Patalógika, mas se eu fosse buscar tudo ia levar um tempão, ficava longe de você, e isso eu não agüento, que eu fico com sinusite, comichão, dor de barriga, nem pensar na minha vida sem ter a quem pedir perdão.

Perdoa. Perdoa eu te amar assim tanto até quase estrebuchar, mas é que eu quando vejo essa boca, essa boca pode mesmo me matar, já tinham me avisado aqueles dois irmãos, mas quando eles cantaram isso eu nem te conhecia, não entendi direito, só agora que acredito, porque às vezes morro um pedaço, cada vez o amor sela de um lado orgasmo e do outro uma morte, tem um psiquiatra que conta isso também, eu não sei direito porque cura já não tenho mais, mas é assim que funciona, mata um pedaço que não volta, minutos que foram pra memória e o corpo ainda está arfando, mas já acabou, é menos tempo na vida pra ver o sol brilhar de novo.

Perdoa. Quanto mais eu explico, menos o resto entende, vai ficando enrolado, e eu depois ainda vou ter que imprimir essa confusão porque você não tem Internet e eu mesma já estou achando tudo diferente, mas por favor fica perto, tô com medo, hoje eu tive um pesadelo, queria um sorvete cheio de marshmallow, falar dessas coisas de amar dá gula e todas as minhas bocas querem ser beijadas e, na falta da tua boca, principalmente a do meu estômago.

Guarda. Guarda eu, você, as garrafas de vinho e os nossos livros pra sempre com beijos macios, beijos de lichia, essa fruta-boca, e nunca demora, que eu tenho medo do escuro, sinto tanto frio... definho sem SOL.

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