segunda-feira, 25 de outubro de 2004

CANÇÃO DA MANHÃ ETERNA

Maior que meu silêncio é o meu cansaço.
Maior que meu cansaço é o meu desejo.
Maior que meu desejo é o silêncio.
Sonhei com mudas de azaléia, pés de boldo-do-chile, sonoras madrilenhas, secas poetisas, um quarto no escuro e uma penca de motivos.
Tinha desenho de graveto na areia, metade da vida passando, vôo baixo de água marinha.
Tinha cheiro de beijo, gosto de arrepio, uma manhã imensa que não cansava de acordar.
Vi um turbilhão de fotografias, uma revoada de vaga-lumes, lumes, lumes, vagos como a lembrança.
Com a presumível ausência estampada no resto dos meus dias, teci com fios de rede a seda de dormir. Pendurei na janela os rolos de rios, bem do lado do tênis encardido.
Quando parecia que a manhã ia acabar, a tarde sentou com a noite pra conversar, falar de futebol, trocaram os números de seus celulares e cantaram trôpegas “luminosa manhã, pra que tanta luz...” E a manhã ficou ali suspensa por um bem-me-quer.
Eu acordei. E ainda era dia.

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom