sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Das despedidas silenciosas



Escreveu o bilhete na penumbra, com saudade do futuro, desprezo por ele, pena de si.
"Caule frondejante de esforço duvidoso, raiz extirpada por agudeza, abcisão de delírio. Pá de cal em fé demente, a fé é sempre urgente, a dor se dá a quem a alimente.
Teriam as bolhas nublado a minha visão? Será que ficou nítido o bastante que a vontade era apenas a de ter uma despedida? 
Uma que estivesse à altura da paixão acometida e que me deixasse ir sem olhar pra trás... Sem lamentar o que jamais vai pertencer, sem juntar sobras do que não aconteceu.
Uma despedida cínica, que fingisse não se importar de sentir tanto frio, e que despejasse, de uma vez, todos os meus silêncios dentro de uma humilhante gaveta erótica, repleta de casos e descasos, onde ficarão perdidos pra sempre.

Eu nem sei se será longa, quanto mais definitiva. Que seja então, depois de rebramante frio, das esperanças abreviativa."

Marcou a ponta inferior direita do papelzinho com um beijo de batom fúcsia e saiu pela porta com a impressão de ter, numa decisão inédita para seu pouco juízo, desistido cedo demais.

Carta de amor
(Jota Maranhão / Graci Felix)

Sinto muito, amor.
Enquanto dormias,
Eu velava o teu sono,
Imaginava o que seria o abandono,
O que a vida me queria reservar.

Sinto muito, amor.
Eu que queria envelhecer aqui.
Sei que a vida esperava mais de mim.
Sei que você vai me entender...

Hoje acordei te amando muito mais,
Enlouqueci só de pensar em te perder.
Não sentirei por mais ninguém o que sinto,
Mas, sei, aqui não é o meu lugar.

Sinto muito, amor.
Sei que a saudade me fará refém,
Mas a realidade se faz pra nosso bem.
Sei que você vai superar...

Hoje acordei te amando muito mais,
Enlouqueci só de pensar em te perder.
Não sentirei por mais ninguém o que sinto,
Mas, sei, aqui não é o meu lugar.

3 comentários:

Renato disse...

Que coisa mais linda!!!! Mas que se faz com a ausência, a perda?

B. disse...

Renato,
Lamber ferida há de ser uma arte.
Pra curar uma perda, só outra maior.
Mas sempre teremos maracujás da casa, gelados, reluzentes ao sol e muito reconfortantes! =]

Isabel Blanc disse...

Tocou, senti. Como todas as vezes.