sábado, 23 de outubro de 2004

UFANIA

Meu anjo da guarda
Tem pouco cabelo,
Só bebe Balla 12,
Tem horror a espelho,
Cita Nietzche no original,
Tem mania de bater porta,
Um desamparo fatal
E pensa que é avestruz.

Meu anjo da guarda
Tem que tomar-se a si,
Parar de fumar,
E perder o medo
De altura e de riscar fósforo,
De ir ao cinema e de elevador,
De janela de treliça
E de acordar muito cedo.

Mas tem um momento do dia
Que ele vira pra dentro
Começa a chover-se
De tanta emoção.
Pode chamar e pedir e rogar
Lá de si ele não sai.
Eu que me pele ou me rasgue
Se houver precisão.

Bem no fundo do olho,
Se você prestar bastante atenção,
Vai ver a Esquadra de Malta
Em dia de glória.
Um time que você nunca verá
Que o anjo faz questão
De inventar.
Até difícil de acreditar.

Se eu for falar da Esquadra,
O meu tempo não dá.
E se o anjo é anjo,
Avestruz ou caído,
Não há quem não perdoe,
Ou ao menos compreenda,
Um caso perdido.

Pra ser vascaíno
Não basta vontade,
Sermão nem exemplo,
É preciso coragem.
Só leva um instante,
Nem mais que um momento
Pra esse amor beluíno
Tomar um coração bailarino.

Um anjo caído
Não seria tão genuíno
Se antes de custódio
Não fosse Januário.
Se antes de depois
Se esquecesse do Romário,
E se, enquanto deus-menino,
Fosse outra coisa
A não ser um vascaíno.

Nenhum comentário: