terça-feira, 6 de setembro de 2005
SINFONIA DE BEM-TE-VI
O pai da moça sempre foi assim: arredio, estranho, malcriado, genial, chorão, egoísta, ensandecido, amantíssimo, devotado, fiel, imprevisível, brilhante, teimoso feito uma porta. O pai da moça imita bem-te-vi, bem que mal, mas tão bem que ela nunca viu igual. O pai da moça faz uma falta absurda... sumido no meio dum sertão árido de incongruências, deixou de dar conta de tanto amor. Culpa nenhuma. Culpa dela, que sempre foi maluca. Por ele, verdade, mas maluca. Todo dia faz falta o peito do tamanho dum continente, pêlo de barba com sorvete de flocos e restos desindentificáveis, um cheiro meio doce e azedo, sola de pé que nunca fica limpa, taça de cristal da bisa, Monteiro Lobato pintado de lápis-de-cor, mofo com cerveja, saudade do bisavô-vô-pai gigante, turno na janela de madrugada, abrir a porta pra ver se tá bem fechada, Condessa de Smirnoff, bisavó já morta dentro do armário, porta de ferro com janela de treliça... “O sabiá sabia já”: Bem-te-vi, tanto bem, bem de longe, bem de perto, bem toda hora-toda, bem pra mim, bem-te-vi pra sempre...
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