terça-feira, 11 de julho de 2006

Duzentos gramas (Falso testemunho)


Trilha: Cabide


Diz, olhando no meu olho, que nunca mais pensou,

Que nunca se perguntou como seria,

Que nunca quis saber o que havia entre eu e outro cara.


Diz, sem baixar a cabeça, que nunca mais lembrou

do beijo, que nunca se perguntou se poderia,

que nunca se flagrou delirando uma cilada ou desculpa esfarrapada.


Diz, olhando bem no fundo dos meus olhos,

Que nunca se moveu por tanto amor,

Que nunca se arrependeu do que abandonou...


Diz, com a cara lavada que eu nunca fui nada

Nem disso nem parecido, diz de uma só tacada

Que nunca quis saber se eu ainda tremeria

Ou choraria ou me desmancharia como antes!


Diz que me esqueceu completamente

E que só eu, que sou doente,

Fico rendendo esse discurso deprimente.


Diz que nunca lembrou de toda a minha entrega ao me comparar com ela

ou outra frívola qualquer.

Diz e jura que isso é tudo mentira, delírio de mulher maluca,

Que já não sobrou nada, nem fuga de pensamento.


Mas faça tal juramento sobre a tua própria carne: diz e jura.

E eu hei de cortar fora o pedaço que me cabe pelo falso testemunho.

Um merecido tormento para o maior mentiroso do mundo

E que eu faço questão de apagar, (mal)feito rascunho.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei chocada com este texto.
Não expresso chocada no sentido de achar ruím. Me identifiquei tanto, que pareceram ser minhas as suas palavras.
Que bom é se ver refletido em outras planícies...
Para retribuir esse apreço, vou postar teu texto, com o link do seu blog no meu.
Espero que os meus leitores também leiam vc.
Obrigada por ser!

B. disse...

Puxa vida, que bacana!
Obrigada pelo carinho da tua mensagem...